2 milhões e duzentas mil pessoas acompanharam o Círio de Nazaré este ano. Foi o recorde, em 218 anos em que a romaria é realizada. Conheci uma senhora que se chamava Maria José. Morava em uma pequena cidade do interior. Ela era casada com o sr. Sebastião.
Na pequena cidade, a srª. Maria José, também era conhecida como Maria do Tião. E tinha também, quem a conhecia por Mariinha. Ela era uma senhora muito prestativa, sempre solidária a todos.
Em nenhum momento do dia, parava para descansar, sempre trabalhando, sempre preocupada com alguém da família, sempre visitando os vizinhos, sempre pensando nos parentes distantes. A senhora Maria José era muito querida de todos. Se alguém chegasse na cidade e perguntasse, onde mora a Maria José, qualquer um informava. Mas se perguntasse, onde mora a Maria do Tião, era a mesma coisa, todos explicavam detalhadamente onde morava a srª. Maria. E se chegasse na cidade e perguntasse onde mora a Mariinha? Sem problemas, sempre tinha alguém para indicar a casa da Mariinha. A srªa. Maria era realmente uma pessoa muito especial.
Todos a admiravam, e sempre que podiam, iam estar com ela, ao menos por alguns instantes, pois sua presença era sempre muito agradável.
Agora imagine a seguinte cena:
Alguém diz que vai visitar a Maria do Tião, porque gosta muito dela. E a outra pessoa responde assim: “-Ah, não! Eu vou visitar é a Mariinha, porque eu me dou muito melhor com ela”.
E outra pessoa ainda diz: “Eu tenho amizade é com a Maria José, por isto, eu vou visitar é a Maria José!”
Teria sentido, este diálogo acima? Seria cômio, se não fosse trágico!
A multidão que acompanhou o Círio de Nazaré, este ano, dia 10 de outubro, foi a maior, nos 218 anos de romaria.
A questão aqui não é ver a fé de outro ângulo, questionar valores, mas sim, a ignorância das pessoas. Vejo sempre a seguinte cena: Um diz ser devoto de Nossa Senhora Aparecida.
O outro diz que alcança graças é com a Nossa Senhora de Lourdes. Outro confia suas orações é a Nossa Senhora da Conceição.
Para que isto, se são a mesma pessoa?
O papa Bento XVI enviou mensagem dizendo: “A devoção mariana contribui para a manifestação de fé, a união do povo católico, e reestrutura a igreja em torno de um só credo”. A própria igreja faz questão de cultivar a ignorância dos fiéis.
Sem dizer que, se quisessem mesmo agradar a Nossa Senhora, todo este povo teria ido é para uma comunidade pobre, visitar as famílias, levar alimento, levar um abraço amigo, levar alegria às crianças, remédios, levantar casas, enfim, fazer algo que realmente ajude o próximo.
Mas na fritada dos ovos, é tudo um comércio. Um grande comércio que movimenta muito, mas muito dinheiro. Quanto mais Maria, mais romaria, mais grana correndo. E é tudo muito bem articulado, muito bem incentivado e o retorno é garantido.
Cada região tem sua ‘Maria’ e fatura seus milhares de reais, seus milhões.
A intenção não é debater a religião, a fé. O questionamento, a indignação é quanto à ignorância.
Se tens amizade com a srª. Maria José, tanto faz dizer que gosta da srª Maria, ou da Maria do Tião, ou da Mariinha. É a mesma pessoa.
E pelo que eu conheço da srª. Maria, do coração bom que tinha, ela não ia ficar nada feliz, vendo as pessoas dizerem que estavam se agarrando a uma corda em homenagem a ela.
Ela se sentiria muito mais homenageada, ao ver as pessoas saciando a fome de um faminto. Visitando um idoso abandonado. Cuidando de uma criança carente.