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A Necessidade da Brincadeira

Na antiguidade, as crianças participavam das mesmas brincadeiras dos adultos. Toda a comunidade participava das festas e brincadeira com a finalidade de estreitar os laços afetivos. Essas brincadeiras, jogos e divertimentos eram aceitos por alguns, como meio de crescimento social, mas recriminados por outros.

Os humanistas do Renascimento perceberam as possibilidades educativas dos jogos e passaram a utilizá-los. Passou-se a considerar brincadeira e jogos como uma forma de preservar a moralidade dos “miniadultos”, proibindo-se os jogos considerados “maus” e aconselhando-se aqueles considerados “bons”.

Houve uma preocupação com a moral, a saúde e o bem comum e passou-se a elaborar propostas baseadas no jogo especializado, de acordo com a idade e o desenvolvimento da criança. Foi com a ruptura do pensamento romântico que se deixou de ver a brincadeira apenas como um ato lúdico. Ela passou a ser valorizada no espaço educativo. No século XIX, durante a Guerra Civil, aparece nas creches da época, o brincar supervisionado, considerado algo educativo.

 

O caráter da Brincadeira na educação infantil

A partir das décadas de 60 e 70, a psicologia do desenvolvimento e da psicanálise contribuíram para que se visse a infância como o período principal do desenvolvimento humano, enfatizando o papel da brincadeira na educação infantil.

Atualmente, dentro de uma visão sócio-histórica, a criança está constantemente modificando-se por estar imersa na sociedade, interagindo com os adultos. Esse desenvolvimento ocorre através da interação e da experiência ssociais, rompendo com as visões biológicas e etológicas.

Percebe-se então, ao longo da história, a evolução da importância do brincar, de um simples ato de lazer para uma contribuição na área cognitiva auxiliando no processo de aprendizagem e na construção de referenciais de mundo.

Através da interação social, a criança se utilizará instrumentos mediadores, a fim de transformar-se. Os problemas que lhe são apresentados, desde o nascimento, faz com que busque soluções imediatas.

Não basta estar em grupo para que ocorra a aprendizagem, o ensino ou o desenvolvimento. É necessário que ocorra interação entre os membros do grupo.

Numa visão sócio-histórica, defendida por Vigotsky, a brincadeira é uma atividade específica da infância, onde a criança recria a realidade utilizando sistemas simbólicos. Essa é uma atividade social, com contexto cultural e social.

Através da brincadeira, a criança pode experimentar novas situações e lhe é garantida a possibilidade de uma educação criadora, voluntária e consciente.

A brincadeira faz com que a criança construa a sua realidade, e perceba a possibilidade de mudança da sociedade, na qual ela faz parte. Existe uma compreensão do mundo e das atitudes humanas.

 

A necessidade da BrincadeiraBrincar é uma atividade fundamental da criança. Pela brincadeira, ela fala, pensa, elabora sentidos para o mundo, para as coisas, para as relações.
Pela brincadeira, objetos e movimentos são transformados. As relações sociais em que a criança está imersa são elaboradas, revividas, compreendidas.

A brincadeira se faz presente na escola nas mais variadas situações e sob as mais diversas formas. Muitas também são suas concepções sobre o seu lugar e sua importância na prática pedagógica.

Uma concepção é a de que criança vai à escola para aprender, ou seja, brincadeira é sinônimo de diversão.

Outra concepção é a de que a criança tem necessidade de brincar, mas que na escola é preciso separar brincadeiras e “tarefas sérias”.

 

A Brincadeira como fonte de aprendizado

Há ainda a concepção na qual brincando a criança aprende, que pode ser traduzida em métodos educacionais que valorizam a brincadeira, podendo ser incluídos jogos como recursos didáticos.

Na brincadeira as crianças assumem papéis definidos, transformam os objetos. É o fato de assumir determinado papel que induz a criança a submeter seu comportamento a regras.

Na situação de brincadeira, a criança supera a ação impulsiva também relativamente aos objetos, nas quais crianças muito pequenas ainda não têm essa capacidade.

Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhecimentos que já possuíam anteriormente em conceitos gerais com os quais brincam. Por exemplo, para assumir um determinado papel numa brincadeira, a criança deve conhecer alguma de suas características.

Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na família ou em outros ambientes, do relato de um colega ou de um adulto, de cenas assistidas na televisão, no cinema ou narradas em livros etc.

A fonte de seus conhecimentos é múltipla, mas estes encontram-se, ainda, fragmentados. É no ato de brincar que a criança estabelece os diferentes vínculos entre as características do papel assumido, suas competências e as relações que possuem com outros papéis, tomando consciência disto e generalizando para outras situações.

Jogos, com regras determinadas, não permitem que a criança se expresse e repense, requer apenas a repetição de atitudes condicionadas.

Uma das características principais do brinquedo é a motivação que ele proporciona para a criação do mundo imaginário vital para o desenvolvimento global do ser humano. É a partir do brinquedo que a criança aprende a agir.

Pensar a importância do brincar nos remete às mais diversas abordagens existentes, tais como a cultural, que analisa o jogo como expressão da cultura, especificamente a infantil, a educacional que analisa a contribuição do jogo para a educação, desenvolvimento e/ou aprendizagem da criança e a psicológica que vê o jogo como uma forma de compreender melhor o funcionamento da psique, ou seja, das emoções, da personalidade dos indivíduos.

As brincadeiras e jogos que vão surgindo gradativamente na vida do ser – desde os mais funcionais até os de regras, mais elaborados – são os elementos que lhes proporcionarão as experiências, possibilitando a conquista da sua identidade.

O tipo de brincadeira varia de acordo com a idade da criança, a composição grupal (número de pessoas envolvidas), o gênero e ao tipo de relação estabelecida entre os participantes.

 

Tipos de brincadeiras:

• Faz-de-conta: é toda brincadeira que transcende o limite da realidade, ocorrendo dentro do contexto da fantasia. É aquela brincadeira em que há a substituição/transformação de um objeto por outro ou de uma pessoa por uma personagem, com a qual a criança utiliza sua criatividade e sua imaginação.

a) Brincar de cuidar: é quando as crianças brincam com a finalidade de representar um cuidado efetivo, ou seja, alimentar através de gesto representativo, como também vestir, pentear, ajudar, etc. Pode ser também aquela brincadeira em que as crianças assumem papéis típicos de cuidadores ou alvos de cuidado, como, por exemplo, mamãe/filhinha e médico/paciente(Carvalho,1999).

b) Brincar de fantasia: é quando as crianças brincam com a finalidade de representar uma personagem, tanto pessoas como animais, como também situações fictícias.

c) Brincar de realidade: é quando as crianças brincam imitando papéis sociais estabelecidos, por exemplo, professor, guarda, pai, mãe, filho, etc, e quando também imitam situações da realidade, como mover um helicóptero de brinquedo, sem envolver os aspectos descritos nas subcategorias “brincar de cuidar” e “brincar de fantasia”.

 

Jogos: é o conjunto de brincadeiras que envolvem regras preestabelecidas.

a) Movimento físico: são aquelas brincadeiras que envolvem movimentos físicos amplos, como também coordenação motora, como, por exemplo, pular amarelinha, pular corda, jogar bola, girar bambolê, etc.

 

Ao brincar, deve-se observar na criança:

Estilo de interação: é o modo como os sujeitos interagem no episódio de brincar:

a) solitário: quando as crianças brincam longe umas das outras, concentradas no que fazem, sem dar atenção ao que as outras crianças estão fazendo.

b) independente: quando duas ou mais crianças estão brincando próximas umas das outras, não havendo tentativa de influenciar a brincadeira do outro.

c) assimétrico: quando duas ou mais crianças estão brincando separadamente havendo uma tentativa de estabelecer algum contato entre si, envolvendo ou não um terceiro, adulto, e existindo uma tentativa de influência recíproca, porém sem complementaridade das ações.

d) complementar: quando duas ou mais crianças estão brincando juntas, havendo influência recíproca e envolvendo ou não um terceiro; pode também ser um adulto; a ação de uma é complementada pela ação de outra, por exemplo: dois meninos brincando de super-heróis, sendo um Batman e o outro Robin.

 

Caráter social:

Abrange uma regulação mútua entre os organismos, ou seja, estes possuem a propriedade de regular e de serem regulados pelo seu co-específico.

a) agonístico: tipo de relação em que duas ou mais crianças, independentemente do contexto do brincar, desempenham ações de agressividade, lutas, disputas, etc.

b) pró-social: tipo de relação em que duas ou mais crianças, independentemente do contexto do brincar, desempenham ações que envolvem amizade, cumplicidade, confiança, afinidade, etc.

 

Brincar na sala de aula possibilita, também, o relacionamento entre as crianças.

No confronto das possibilidades, no exercício das trocas e negociações, vai se delineando a disputa entre os modos de ver e dizer o mundo e o outro.

Emergem, na dinâmica da brincadeira, as práticas sociais das crianças, suas histórias em construção no jogo “real” e conflitante das relações sociais.
Vista de perto, com enfoque na criança que brinca, a brincadeira na escola se revela muito mais complexa, múltipla e contraditória do que leva em conta o princípio didático-pedagógico que associa o brincar a aprender.

O uso da brincadeira como estratégia de aprendizagem acentua-se nas séries iniciais do 1º grau. Incentivada e considerada atividade fundamental da criança na fase pré-escolar, a brincadeira costuma ser, então, deixada de lado, ou apenas tolerada.

No processo da educação infantil, o papel do professor é primordial, pois é aquele que cria espaços, oferece os materiais e participa das brincadeiras, ou seja, media a construção do conhecimento.

O professor é mediador, fazendo parte da brincadeira, ele terá oportunidade de transmitir valores e a cultura da sociedade. O professor estará possibilitando a aprendizagem da maneira mais criativa e social possível.

Ao possibilitar o jogo e observar as crianças brincando, o professor pode se ater a suas respostas (ao que elas fazem), identificando o que conhecem ou não, se desempenham tarefas e se solucionam problemas.

Pode, também, intervir na sua atividade, no sentido de ajustar suas respostas ao que delas esperamos durante o jogo. Os dados observados permitem classificar as crianças segundo seu desempenho.

As respostas das crianças também podem nos servir de indicadores do seu desenvolvimento.

A atenção ou destaque que a professora vai dando a determinados aspectos da brincadeira constituem a via pela qual ela interfere na atividade da criança, não para ajustá-la à sua própria maneira de considerar o jogo, mas para, explorando com ela outras possibilidades, enriquecê-la em organicidade e duração.

Além de ensinar, nessa relação a professora também aprende. O professor elabora um saber sobre as crianças (suas particularidades e singularidades no processo de aprendizagem) e um saber sobre sua prática (possibilidades de sua participação nos processos de aprendizagem de cada criança).

Com a intenção de aproximar o aluno da escola e mantê-lo motivado neste ambiente, deve-se utilizar recursos que diversifiquem a prática pedagógica, buscando tornar o espaço da sala de aula aconchegante, divertido, descontraído, propiciando o aprender dentro de uma visão lúdica, criando um vínculo de aproximação/união entre o professor e o aluno.

Faz-se necessário que o professor conheça o processo de desenvolvimento da criança, assim como as etapas que ela deve conquistar.

 

Concluindo

o ato de brincar, independente do espaço em que ocorra, deve ser valorizado por se constituir num instrumento de aquisição de novos conhecimentos e de aprendizado das regras e normas adultas vigentes na sociedade, contribuindo com a formação de um cidadão crítico e atuante.