O principal objetivo da psicologia comunitária é a incorporação do meio social à análise dos problemas de saúde mental.
A origem da psicologia comunitária encontra-se nos Estados Unidos, mais especificadamente na Conferência de Swampscott, realizada em 1965, que debateu sobre as limitações da psicologia para abordar a análise dos problemas de saúde mental socialmente determinados.
A disciplina foi uma reação à maneira como tradicionalmente se abordava a avaliação e o tratamento dos problemas de saúde. Na década de 1970, a psicologia comunitária começou a desenvolver-se na América Latina, onde, desde o início já havia algumas experiências de intervenção com comunidades com caráter isolado. Mas, foi em 1979, com a criação do Comitê Gestor de Psicologia Comunitária, que se começou a conscientização de que estas experiências não eram isoladas, mas que faziam parte de um esforço coletivo, que atendia a interesses e preocupações comuns.
A psicologia social comunitária não se desenvolveu igualmente em todos os países latino-americanos, tendo rápido crescimento em alguns, como Porto Rico e Brasil, e lento crescimento em outros, como Chile e Argentina.
Posteriormente, em 1990, com trabalhos de intervenção e com a introdução da disciplina em universidades, ocorre, então, sua consolidação definitiva.
Apesar da diversidade nacional, sociopolítica e cultural da psicologia social comunitária, existem pontos comuns a ela nos países latino-americanos, que proporcionam alguns sinais de identidade própria.
São eles: forte compromisso com os setores mais desfavorecidos da sociedade e orientação para a mudança social; rejeição da concepção mecanicista da pessoa derivada do positivismo, e reconhecimento da capacidade de ação. busca de métodos participativos de intervenção, que envolvam as pessoas em seu próprio processo de mudança.
Esses pontos comuns são enunciados na definição de psicologia social comunitária proposta por Maritza Montero.
Segundo Montero (1984) a psicologia social comunitária é o ramo da psicologia cujo objetivo é o estudo dos fatores psicossociais que permitem desenvolver, formentar e manter o controle e poder que os indivíduos têm condições de exercer sobre seu ambiente individual e social, para solucionar problemas que afligem e conseguir mudanças nesses ambientes e na estrutura social.
O surgimento da psicologia social comunitária na América Latina pode ser considerado como uma resposta à crise que a psicologia social vivenciou durante a década de 1970.
Com essa crise começou-se a questionar premissas epistemológicas e metodológicas dominantes da época, como a concepção mecanicista e a criticar a orientações como a psicologizante e individualista da disciplina.
A psicologia social comunitária surge como uma resposta à preocupação de contribuir mais para a melhoria das condições dos grupos mais desfavorecidos, partindo do princípio de que os problemas que afetam os grupos sociais têm origem na estrutura social em que os membros estão inseridos.
Seu objetivo final é a mudança social. Embora a psicologia social latino-americana tivesse permanecido relativamente alheia aos problemas sociais que a rodeavam, outras ciências haviam adotado uma atitude de forte compromisso com os setores mais desfavorecidos da sociedade.
Neste sentido, destacam-se os trabalhos do sociólogo colombiano Orlando Fals-Borda que nos anos de 1950 faz um esforço importante para aplicar o conhecimento da sociologia à análise dos problemas da sociedade colombiana.
Ele levanta a necessidade da contribuição das ciências sociais para a mudança social, econômica, política e cultural. Fals-Borda parte do esquema da Pesquisa Ação Participativa, que destaca a necessidade de que sociólogo e comunidade participem do processo de mudança.
É importante destacar os trabalhos de Paulo Freire, cujo objetivo foi a conscientização das pessoas para que pudessem fazer uma avaliação crítica de sua situação, e o desenvolvimento dos recursos necessários para que elas mesmas transformem seu meio.
Com isso, o papel do psicólogo social passa de um perito para um facilitador de mudanças. Em relação ao método utilizado pela psicologia social comunitária, destaca-se a Pesquisa Ação Participativa.
Há também metodologias próprias, como o modelo de intervenção elaborado por Irizarry e Serrano, onde se deve haver uma interdependência entre o processo de pesquisa e o de intervenção, e se fundamenta em alguns passos: familiarização com a comunidade, identificação de necessidades e recursos, reuniões com setores da comunidade, trabalho coletivo e estabelecimento de metas de curto a longo prazos.
Juntamente com a utilização do método da Pesquisa Ação Participativa, há uma variedade de métodos e técnicas utilizados para identificar e analisar os problemas que afetam às comunidades e a intervenção.
Assim, não há uma ruptura radical com os métodos tradicionais, como a dinâmica de grupo.
No que diz respeito ao desenvolvimento teórico da disciplina, os trabalhos iniciais buscaram referência em teorias clássicas. Mas, com o desenvolvimento da psicologia social comunitária, outras propostas apareceram, contribuindo para sua consolidação.
Tem-se, como exemplo, a análise do poder e da mudança social de Serrano e López. Apesar da enorme diversidade que encontramos sob o rótulo de psicologia social comunitária, seu desenvolvimento no contexto latino-americano teve algumas características comuns que lhes conferem sinais de identidade própria.
Na América Latina, surge como alternativa à psicologia social tradicional, visando promover a mudança social com a participação das comunidades e grupos.